E se o lugar em que seus antepassados estão enterrados fosse tomado por jogadores interessados unicamente em ganhar “pokebolas”? É uma possibilidade.
Jazigos de cemitérios de São Paulo foram designados como pokestops em “Pokémon Go”: esses locais servem como uma espécie de “armazém de acessórios” no jogo –ao passar perto de um deles, basta girar a roda que aparece na tela para ganhar itens como pokebolas, necessárias para capturar as criaturas do jogo.
Os lugares são escolhidos por geolocalização e mapeamento automático.
O jazigo dos Tognato, uma família tradicional do ABC Paulista ligada à indústria têxtil, no Cemitério da Saudade, em Santo André, é uma pokestop. Ali estão enterrados o patriarca Giacinto Pietro, a mulher e muitos de seus filhos, conta a neta dele, Elizabeth.
E ela de alguma forma se sente desrespeitada por ver a morada de seus antepassados virar cenário de game? “Não vejo nada demais. É algo atual, um acontecimento, um jogo que é um sucesso. Não acho um desrespeito”, diz a empresária.
Ela não está sozinha. No Cemitério da Consolação, o mais tradicional de São Paulo, lugar de sepultamento de Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, entre outros notáveis, também há pokestops –caso do jazigo da família Florêncio Gomes.
A Prefeitura de São Paulo não vê problema nisso e acha que é até positivo: na visão da administração municipal, o game pode ajudar a reduzir estereótipos sobre esse tipo de lugar.
“Para enfrentar o tabu de lidar com a morte, o Serviço Funerário do Município de São Paulo apoia a ocupação deste espaço de forma cidadã. Munícipes que desejam frequentar o Cemitério Consolação e aproveitar para conhecer grande parte da história e memória (individual e coletiva) da cidade de São Paulo e do Brasil serão sempre bem-vindos”, diz o órgão, em nota.
Nos EUA, a administração desse tipo de lugar tem tido uma visão diferente doi tema: cemitérios de Westland (Michigan) e Arlington (Virgínia) pediram para serem excluídos do game.
(A dica sobre o jazigo da família Tognato foi do leitor Marcel Lopes. Obrigado!)