Sou um entusiasta do Windows Phone ao mesmo tempo em que eu o detesto –poderia dizer o mesmo do Android e do iOS–, mas o sistema da Microsoft para celulares tem muitos detalhes que poderiam (deveriam) ser copiados pelos concorrentes.
Pondo de lado por um instante sua lentidão e a carência (ou precariedade) de aplicativos essenciais (Facebook e WhatsApp são muito ruins, e não há Google Maps, para citar alguns), achei que pudesse elencar algumas características louváveis do WP.
Outra beleza
Para começar, é lindo. Não é uma beleza que está no design dos ícones ou no esplendor dos papéis de parede, mas uma elegância que se vale mais de texto que de linguagem imagética e que, muitas vezes, deixa muito mais “respiro” que os demais sistemas operacionais. Clean, elegante.
As animações são austeras, sem as firulas dos Androids asiáticos, mas não sisudas ou bruscas, como num Windows para computador (descontada a interface “moderna” ou Metro).
Ícones dinâmicos
Chamados de “live tiles”, os bloquinhos que são os ícones do sistema, que têm tamanho personalizável e ocupam toda a tela inicial do aparelho. Mas o que é especial de verdade neles é que eles exibem conteúdo recente ou “favoritado” –caso do aplicativo de álbum de imagens, que mostra um slideshow com as suas fotos marcadas como favoritas.
Por exemplo, o ícone do app Kindle, da Amazon, mostra o livro aberto mais recentemente; a agenda de contatos “passeia” pelas fotos de perfil dos seus amigos; o de calendário exibe não só a data, mas também os próximos compromissos. Isso dentro da área clicável do ícone.
É como se todo ícone funcionasse como um “widget” de Android (e introduzido no iOS 8), com liberdade de mudar seu tamanho. A possibilidade de ter ícones BEM pequenos permite que usuários livres de presbiopia aproveitem melhor o espaço da tela, disputado por um número cada vez maior de aplicativos “básicos”.
O próprio ícone pode ser personalizado com apps dedicados.
Personalização do tema
É possível escolher qual a cor predominante entre os ícones (é a cor do “tema” do celular), o que renova totalmente o visual do sistema –até você enjoar da nova cor e trocá-la novamente.
Mas legal mesmo é escolher um plano de fundo que “atravessa” os ícones. Se a foto é boa, fica de chorar.
Também dá para mudar os sons do sistema, aos quais mesmo usuários de Android ficam amarrados, como se fosse num PC com Windows (as opções são limitadas, mas existem). E o som de gota caindo na água quando o celular é desbloqueado é demais, ainda que brega.
No Android, dá para instalar um sem número de personalizações, especialmente por meio dos chamados “launchers“, é verdade –meu app favorito do tipo é o Aviate, do Yahoo!.
Mas isso é prejudicial ao desempenho do aparelho, além de não ser nativo. Nunca tentei, mas uma modificação ainda mais profunda que pode ser feita é a instalação do CyanogenMod, sistema operacional também baseado no Android, mas que dá ainda mais liberdade ao usuário.
No iPhone, nem pensar.
Tela de bloqueio informativa
Em algumas das modificações do Android (feitas pelo fabricante ou pelo usuário por meio de aplicativos) também se pode fazer isso, mas, no Windows Phone 8.1, isso é uma configuração padrão: ajuste se quer ver qual o próximo compromisso marcado na agenda e a previsão do tempo sem ter de desbloquear o aparelho.
‘Fixar’ as coisas
Um contato, qualquer página da internet ou uma página do Facebook podem ser “pinned” (fixados) na tela inicial. Útil.
Microsoft, por favor, melhore o WP
Talvez os defeitos do Windows Phone derivem da baixa adesão –e vice-versa. Praticamente restrito aos aparelhos da Nokia (que pertence à Microsoft), com exceções da Samsung e da HTC, o sistema tem participação de mercado decrescente, com 2,7% dos “shipments” (unidades produzidas conforme pedidos, dado que reflete vendas) globais no segundo trimestre, segundo a Strategy Analytics.
Muita gente diz que gostaria de ter um Nokia com Android (esse projeto existiu, mas foi enterrado). Também há os que vislumbram um iPhone com Android, que também vem a ser meu sistema favorito, ainda que com muitas ressalvas. E vários dizem “o que é isso?” quando veem a interface do Windows Phone que estou usando –tristemente sintomático, ainda que divertido.
A Nokia é um ás em fazer aparelhos –e com seus icônicos tijolões indestrutíveis causou uma ótima impressão nas pessoas que conheço, eu incluído. O Lumia 830 que estou usando é provavelmente o smartphone mais bonito que já peguei –e é completamente “understated”, discreto. A parceria com a Zeiss e a tecnologia de câmera PureView tornam seus aparelhos verdadeiros “cameraphones” (sim, pode-se dizer o mesmo dos da Apple e dos topos de linha da Sony).
Se todo aplicativo do Google funcionasse perfeitamente no sistema, junto com Facebook, WhatsApp, Instagram, Dropbox e Evernote, seria um páreo muito mais justo. Não é culpa da Microsoft, mas a empresa certamente pode viabilizar/catalisar tanto.
Ademais, tudo precisa ser, ou ao menos parecer, mais ligeiro. A animação de “loading” do sistema e seus pontinhos correndo na parte de cima da tela pode ser muito pouco intrusiva, mas causa tanta inquietação quanto a ampulheta dos Windows até a versão Vista –e aparece sempre.
Sempre vou me entusiasmar operando um Windows Phone, só não quero me frustrar logo em seguida.