Na carona da capa do “Tec” desta semana, resgato um ótimo texto de Nicholas Carr para o “MIT Technology Review” que fornece um belo panorama sobre a educação on-line.
Em “The Crisis in Higher Education” (a crise na educação superior), Carr escreve:
Mas nem todos estão entusiasmados [com a educação pela internet]. As aulas on-line, temem alguns educadores, na melhor das hipóteses provarão ser uma distração para administradores de escolas; na pior, acabarão diminuindo a qualidade da educação no campus. Os críticos apontam para a antiga mania dos cursos por correspondência como um alerta.
O que houve com os cursos por correspondência? Eles não conseguiram oferecer ensino de qualidade, e poucos alunos terminavam os cursos. Fracassaram.
“Desta vez é diferente?”, pergunta Carr. “Não sabemos ainda”, ele mesmo responde, para então listar razões pelas quais a educação on-line pode dar certo ou ter o mesmo destino dos cursos por correspondência.
Basicamente, ela pode dar certo devido às possibilidades oferecidas pela tecnologia.
A economia da educação on-line, diz ele [Peter Norvig, diretor de pesquisas do Google e professor da start-up educacional Udacity], melhorou muito. Instalações de computação em nuvem permitem que grandes quantidades de dados sejam armazenadas e transmitido a um custo muito baixo. Aulas e questões podem ser transmitidas gratuitamente por meio do YouTube e outros serviços populares de mídia. E as redes sociais como o Facebook fornecem modelos para campi digitais onde os alunos podem formar grupos de estudo e responder a perguntas uns dos outros. Só nos últimos anos, o custo de envio de aulas interativas multimídia on-line caiu vertiginosamente. Isso tornou possível ensinar um grande número de estudantes sem cobrá-los por isso.
(…)
Para cumprir a sua grande promessa — fazer a faculdade, de uma só vez, melhor e mais barata –, os MOOCs terão de explorar os mais recentes avanços em processamento de dados em grande escala e em aprendizado de máquinas, que permitem que os computadores adaptem-se às tarefas quando necessário. (…) Com o uso de algoritmos para detectar padrões nos dados, programadores esperam obter “insights” sobre estilos de aprendizagem e estratégias de ensino, que podem então ser usados para refinar mais a tecnologia. Tais técnicas de inteligência artificial levarão, acreditam os pioneiros do MOOC, o ensino superior para fora da era industrial e para dentro da era digital.
Algumas das novidades, porém, podem ser perigosas, alerta Evgeny Morozov em sua última coluna.
E o que dizem os críticos?
Os promotores dos MOOCs têm uma “percepção bem ingênua do que a análise de grandes conjuntos de dados permite”, diz Timothy Burke, professor de história no Swarthmore College. Ele afirma que a educação a distância tem historicamente ficado aquém das expectativas não por razões técnicas, mas, sim, por causa de “profundos problemas filosóficos” com o modelo. Ele admite que a educação on-line pode oferecer treinamento eficiente em programação para computadores e outros campos caracterizados por procedimentos bem estabelecidos que podem ser codificados em software. Mas argumenta que a essência de uma educação universitária está na sutil interação entre alunos e professores que não pode ser simulada por máquinas, não importa quão sofisticada seja a programação.
Alan Jacobs, professor de inglês no Wheaton College, em Illinois, levanta preocupações semelhantes. Em um e-mail para mim, ele observou que o trabalho de estudantes universitários “pode ser afetado de forma dramática por sua reflexão sobre as situações retóricas que eles encontram na sala de aula, em encontros síncronos em tempo real com outras pessoas”. A riqueza total de tais conversas não pode ser replicada em fóruns de internet, ele argumentou, “a menos que as pessoas que escrevem on-line tenham a capacidade de um bom romancista para representar modos complexos de pensamento e experiência em prosa”. Uma tela de computador nunca será mais do que uma sombra de uma boa sala de aula de uma faculdade. Como Burke, Jacobs teme que a visão da educação refletida em MOOCs tenha sido distorcida para aquela dos cientistas da computação que desenvolvem as plataformas.
“Para o bem ou para o mal, as forças diruptivas da rede chegaram aos portões da academia”, diz Carr, na conclusão do artigo.