O cenário beirava o ideal: Paraty (RJ) fica no precioso litoral sul fluminense e recebe eventos de pujança cultural notável, como a Flip. Mas a cidade tem um sério problema de conexão à internet, segundo moradores que ouvi.
Dessa maneira, seria providencial a conexão de 100 Mbps prometida pela organização da Virada Digital, que aconteceu entre sexta (11) e domingo (13). Para o bom correr do evento e, mais importante, por chamar a atenção para o “fosso digital” que é Paraty, como definiu o organizador da virada, Roberto Andrade.
Não foi bem assim.
Enquanto a internet não estava inativa –distribuída via Wi-Fi, caiu frequentemente, em especial no primeiro dia do evento–, pecava na velocidade. Numerosos testes que fiz acusaram taxa de download abaixo de 1 Mbps.
Um dos participantes (menino “superconectado” que puxou justamente esse assunto comigo) teve um pouco mais de sorte: seu teste atingiu 30% do que anunciava o evento, que teve a Embratel como patrocinadora e fornecedora da conexão, de fibra ótica.
É abaixo dos 60% que as provedoras serão obrigadas a entregar a partir de novembro –exigência muito bem enaltecida em um dos painéis do evento, “Uma Agenda Digital para o Brasil”, pelo secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cezar Alvarez (que também foi autor de declaração controversa durante a palestra).
A baixa adesão do público, em especial às falas, também maculou a Virada Digital.
Dificilmente estiveram ocupadas as cem cadeiras que tinha o auditório do hub estrela, interessante galpão inflável que acolheu as principais entre as 74 atividades do evento.
Pouca gente acompanhou, também, a oficina de rima que ministrou MV Bill na sexta (12).
A participação de Gilberto Gil aconteceu por vídeo. Gravado.
Mas isso não quer dizer que a virada não teve pontos altos.
Um deles foi a demonstração de um projeto que é parceria entre o INT (Instituto Nacional de Tecnologia), sediado no Rio, e a tricampeã mundial de jiu-jítsu Luanna Alzuguir.
Pioneiro no esporte brasileiro (e na luta em nível mundial), usa um sistema de captação de movimentos, que também é utilizado pela seleção de vôlei da Holanda, para ajudar no aprimoramento da atleta.
O barco solar, outro destaque, chama mais a atenção porque é irmão do projeto de uma alternativa verdadeira de transporte sustentável: um táxi hidroviário completamente alimentado por energia do sol, a entrar em operação entre dezembro deste ano e março do ano que vem.
A melhor ideia do evento, contudo, é também a mais simples. Os mutirões digitais, como foram chamados, puseram em contato com o mundo informacional qualquer pessoa que desejasse fazê-lo –com direito a instrutor a todo o tempo.
A próxima edição da Virada Digital ocorrerá em novembro, em três cidades, simultaneamente: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.