Estou fascinado pelo caso Mike Daisey.
Com seu monólogo “A Agonia e o Êxtase de Steve Jobs”, que ficou em cartaz em Nova York até este domingo (18) e foi visto pela Folha no ano passado, Daisey buscava chamar a atenção para as famigeradas condições de trabalho nas fábricas chinesas da Foxconn, onde se fazem produtos da Apple, como o iPhone e o iPad, e de outras grandes empresas de tecnologia.
Soubemos recentemente que os trechos mais dramáticos da peça, como os encontros que Daisey disse ter tido na China com funcionários menores de idade e trabalhadores envenenados por produtos químicos, foram inventados.
As mentiras vieram à tona depois da participação de Daisey no programa de rádio “This American Life”. O programa se retratou por ter colocado no ar, como se fossem verídicos, os relatos falsos do ator.
“Meu show é uma peça teatral cujo objetivo é criar uma ligação humana entre nossos aparelhos lindos e as circunstâncias brutais de onde eles emergem”, escreveu Daisey em seu blog. “O que eu faço não é jornalismo.”
Antes de tudo, recomendo a audição do episódio de retratação do “This American Life”. Confrontado pelo repórter Rob Schmitz, o ator admite, entre longos silêncios, que tomou algumas liberdades factuais em prol de seus benevolentes objetivos.
Ouviu? Então recomendo a leitura dos seguintes textos (todos em inglês, infelizmente):
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Matthew Baldwin, no blog defective yeti
Baldwin, que no fim dos anos 1990 trabalhou na Amazon com Daisey, revela que as tendências mitômanas deste são antigas. O ator transformou sua experiência na loja on-line no monólogo “21 Dog Years”. Em uma entrevista ao “Seattle Weekly” sobre a peça, Daisey afirmara que via Jeff Bezos, o fundador da Amazon, “o tempo todo, quase todos os dias”. Baldwin nos conta: “Trabalhei a cem metros de Daisey e, ao longo de muitos anos, devo ter visto Bezos umas três vezes.”
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Michael Wolff, no “Guardian”
Wolff é um dos poucos que defendem os métodos de Daisey (também faz parte desse grupo, acreditem, Steve Wozniak, cofundador da Apple). Admirador do ator, ele o compara a Truman Capote e diz que jornalistas de tecnologia “estão entre os piores escritores no campo do jornalismo”. “Não deveríamos nos concentrar nos lapsos factuais de Mike Daisey, e sim em como ele escreve tão bem.”
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David Carr, no “New York Times”
“É OK mentir no caminho para contar uma verdade maior? A resposta curta é também a certa. Não.”
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Arik Hesseldahl, no All Things D
“O resultado dos esforços de Mike Daisey para se autopromover acima dos fatos turvou terrivelmente as águas e provavelmente prejudicou ainda mais as pessoas que ele queria ajudar. Mike Daisey é um fabulista oportunista e devia se envergonhar por ter mentido.”
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John Gruber, no blog Daring Fireball
“Acho que Daisey realmente acredita que merece a atenção que suas mentiras lhe deram, e, por isso, ele não tem intenção nenhuma de parar de contá-las.”
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Leu mais algum texto interessante sobre o caso? Deixe a dica nos comentários.