Prometido para o primeiro trimestre do ano que vem (que não está tão longe quanto soa), embutido em um aparelho com tela sensível ao toque, o BlackBerry 10 é um sistema que não tem nada a ver com o atualmente empregado nos sisudos celulares da RIM, dona da marca que já foi a queridinha do mundo corporativo.
Segundo a empresa, o sistema é fruto de um trabalho de programação “do zero” e se assemelha, em certo nível, ao que equipa o tablet PlayBook.
Durante um evento que a companhia organizou para desenvolvedores nesta semana, pudemos olhar e manipular o BB10 instalado em um dos protótipos da fabricante, que carece de teclado e faz uso de uma tela tátil (os representantes chamam o aparelho de “full touch” e adiantam que também haverá aparelhos com qwerty físico).
Com tela de 4,2 polegadas e resolução de 1.280 x 720 pixels (características que devem ser comuns ao aparelho a ser lançado) e processador OMAP de 1,5 GHz e núcleo duplo, o protótipo está ao par com os atuais topos de linha –e roda sem qualquer engasgo.
A interface é voltada para operação com um só dedo e tem o intuito de “quebrar o paradigma do aplicativo”, disseram os funcionários da empresa, algo que a RIM intitula “interface Flow”.
De fato, o sistema conta com funções úteis e aparentemente óbvias, como o desbloqueio sem a necessidade de pressionar um botão (apenas deslizando o dedo da borda inferior para cima) e a alternância para o modo silencioso (que chama o app de despertador e transforma a tela do aparelho em um relógio) também só com um dedo, abaixando uma “cortina” na tela bloqueada.
O “peek” (espreitar em inglês) talvez seja a mais útil entre as funcionalidades desse futuro sistema. Com ele, é possível “espiar” um outro aplicativo, arrastando a tela com o dedo, sem ter de sair do atualmente ativo.
Um exemplo: enquanto o usuário navega na web, é possível verificar o título e uma parte de mensagens de e-mail que acabaram de chegar –e isso basta, em boa parte das vezes. Isso é pensado para equivaler ou substituir a central de notificações do Android e do iOS.
Outras coisas bacanas que experimentamos na versão alpha (teste fechado) são o teclado “inteligente”, a câmera e sua ferramenta de correção de olhos fechados, a função Balance para alternar entre perfis “pessoal” e “trabalho”.
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A digitação no protótipo que foi apresentado pela RIM à imprensa é bastante semelhante à experimentada no teclado do iOS, da Apple, mas com melhorias significativas. As sugestões apresentadas pelo BB10 não são automáticas, como no sistema da Apple, mas sim pipocam sobre a letra que deve ser a próxima a ser digitada.
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Para aceitar uma sugestão, então, o usuário “arremessa” a palavra sugerida desde a tecla até o campo de texto –tarefa mais fácil do que se pode imaginar.
Em tese, o teclado detecta a linguagem empregada (formal ou informal) e baseia-se em textos anteriores para dar mais precisão ao que é sugerido. Como não foi possível usar o sistema durante muito tempo, não há como dizer se isso funciona.
Por outro lado, é possível afirmar que o sistema reconhece a mudança entre os idiomas português e inglês rapidamente (com a inserção de mais ou menos duas palavras) e sem a necessidade de fazer qualquer ajuste.
O Balance, responsável por alternar entre perfis, muda a cara (plano de fundo, toques, por exemplo) e a funcionalidade (aplicativos, serviços) do telefone, algo que deve apelar fortemente para o nicho corporativo.
Entre as outras principais novidades do sistema está o Hub, que deve agregar e-mails, SMS, tuítes e textos do aclamado BBM.
Isso tudo é legal, mas haverá aplicativos para a plataforma? A canadense aposta na facilidade de criação e conversão de apps para o BB10 e em um programa de compensação para desenvolvedores.
O 10k Program funcionará da seguinte maneira: donos de aplicativos que atinjam o faturamento de US$ 1.000 e não consigam decuplicar esse montante depois de um ano terão a diferença entre US$ 10 mil e o quanto conseguiram nesse período compensada pela RIM. Soa atraente.
O BB10 também equipará featurephones (celulares baratos), smartphones com teclado físico e tablets –o PlayBook ganhará atualização para o sistema, diz a RIM.
Competir com Apple e Google no mundo móvel é tarefa hercúlea, mas, pelo visto na versão de testes do BB10, um terceiro lugar não parece impossível.